domingo, 4 de setembro de 2011

Cada coisa que a gente ouve...


                                                                           "É que o mundo todo vivo tem a força de um Inferno".
                                                                                                                   Clarice Lispector.


 
                                                      Eu ouvi falar que milhões de judeus morreram por conta de um cara bigodudo, que tinha gostos nojentos e não retratava uma "raça pura", mas que colocou grandes caras na linha de risco e do risco. Eu ouvi falar que as Cruzadas foram santas e as santas, muitas vezes, não foram santas por toda a vida. Eu ouvi histórias de pezinhos que se arrastam na madrugada, e isso se chama alma penada que ainda tem alguma pendência por aqui. Eu ouvi dizer de um exílio (que não é a solidão que cada um carrega dentro de si), mas que foi inspiração para a música. Eu ouvi o telefone tocar, e do outro lado da linha alguém brincar com o meu jeito de dizer "Aaaalôouu". Eu ouvi o hino nacional, eu não entendi nada de nada, mas cantava com a mão direita grudada no coração. Eu ouvi a fala do meu coração e fiquei com medo danado da outra pessoa ouvir também e por isso eu gargalhei, para abafar o primeiro ruído (estrondoso... "claro está"). Eu ouvi a minha voz no gravador e prometi que nunca mais repetiria a dose. Eu ouvi o "eu te amo" do meu cachorro pra minha mãe, no seu auauau-de-cada-dia (?!). Eu ouvi que eu sou feia e que as mulheres mais bonitas não tiveram êxito em seus relacionamentos (e eu ainda sou avulsa). Eu ouvi a triste história do gênio que inventou a fórmula da Coca-cola e fiquei esperta para patentear qualquer projeto meu que nem mesma eu boto fé. Eu ouvi uma declaração de amor perfeita (e pasme!) que não era pra mim, mas que seria a declaração que eu faria para o enunciador.









Em nota: texto encontrado agorinha, num bolinho de papel amassado dentro de uma bolsa aposentada. (Por que tem gente que tem a péssima mania de se desligar de aulas e viajar nas palavras?). Acho mto feio isso!

sábado, 20 de agosto de 2011

Em três, em prosa.

                          Esse seu cheiro que tá aqui.
                  Esse ménage à trois em prosa.
Esses três no chão e pertinho da grama.
Esses cigarros e essa ousadia.
Essa flor entre dois cravos (ou cactos?),
Esses piercings, essa tatoo, esse cabelo;
Essa boca, a vergonha e um climinha.
Essas perguntas intrigantes,
essas intimidades escapulidas,
esses segredinhos vergonhosos.
Essas respostas sem pensar,
esses joguinhos perspicazes,
esses sorrisos indiscretos.
Essas gargalhadas que respondiam tudo.
Essa parceirice de uma noite,
Essa homenagem ao Acaso.
Esses três que se surpreenderam.
 se apaixonaram,
confessaram e desencontraram.
Esses três braços entrelaçados,
Esses olhares alheios para os três,
 Esses três à trois.
Essa tensão para um cara de cabelo azul.
Esse companheirismo de capoeira.
Essas "pernas, pra que te quero?".
Essa pergunta "encabulante"
Esse tapa na cara bem merecido
Essa surpresa do: "Eu a beijaria".
Esses fetiches ou curiosidades.
Essas curiosidades de um beijo metálico
 e cheio de argolinhas.
Essas pulseirinhas da alma,
Esse esqueiro pela metade
Essa foto que tá guardada.
Essa crença e essas desconfianças de gesto.
Esses abraços de despedida,
Esse aperto de mão q diz "eu não sei".
Esses três que serão dois.
Esse um que a gente se esbarra.
Essa poesia do "nunca mais"
Esse fim que balançou,
Essa coisa boa que ficou,
Essa noite que marcou.
Esse "pra sempre" que não existe.
Esse brinde do "E agora," meus cactos?

A gente (não) empresta nossos lápis!

"Gente feliz, e por enquanto não há outra verdade mais verdadeira"
Saramago. *-*




Nada mais legal que escrever em cores. Até porque há quem diga que se fala LIBRAS (e não em Libras).  E nesses três últimos dias, nossas Letras foram coloridas. De todas as cores.

Teve cor vermelha, de uma vergonha por conta de um pito, uma chamada de atenção ou olhar de "olha, que bagunça". O vermelho por um rapazito que passa os cinco dedos na bolsa de um dr. ("desova na pedreira", né Alexandra?).
Mas tbm... o vermelho carmesim deu o ar de sua graça, na paixão que motivou essa Organização do Barulho. Paixão pelos sorrisos toscos, felizes e contagiantes. Paixão pelo Chico Bento, pelo "oficinador" dos olhos azuis de dar inveja. Paixão em carmesim por uma união que nos aproximou ainda mais e pela amizade que foi cultivada.

O amarelo se fez presente não apenas no sol que nos acompanhou, mas que tbm desapareceu entre as nuvens. O amarelo do cartaz do evento, o amarelo do encanto de um abraço acolhedor e o amarelo do hino brasileiro em guarani.

O roxo da revista Raído. O provável roxo que duas pessoas ficarão no olho se cultivarem uma certa amizade (não-add pra vcs, tá?). O roxo de um gesto obsceno que a gnt faz mentalmente para alguém. O roxo de um notebook que deu o que "roxear".

Ah! O azul... Ou deveria dizer: Azulzinho? (claro! e que cheiro é esse que ficou aqui, hein?). O azul do menino dos olhos azuis. O azul do céu, o azul da leveza de todo esse encontro (encontro de risos, de olhares cúmplices, de pitos compartilhados, de fofocas passadas a rolé por nossa carteira Dri, o encontro de dois analistas de discuros, o encontro de Letras e Direito). Sacou? Tô falando daquele azul, sabe?! O azul que com o Vermelho... fica Homem-aranha!

Enfim, só sorrisos para todo o arco-íris que a gente pintou. E não vamos deixar ninguém borrar não, né?!
Aliás, se borrarem, Homem-Aranha pra eles.

sábado, 30 de julho de 2011

Sim, sr.: uma singela homenagem.

E aquele menino dos lábios grossos e cabelo pixaim cresceu. Aquele lá do tempo do sítio,  do tempo das vacas magras, esqueléticas, e das vacas gordas. O rapazito que se tornou o "Einstein negro" da escola pela audácia de um cálculo, que se tornou um super-herói pela coragem de criar seu pelotão, que se tornou um orador pela perseverança na caminhada. O rapazito bom de bola, de galanteios, de amigos. O universitário líder, sarrista e fazedor de bombinhas de fumaça. O co-piloto sem licença para voar, o advogado sem malandragem para atuar, o conselheiro sem papas na língua para apitar. O homem-feito que chorou no enterro de seu pai e no casamento de sua filha (e só que eu me lembre). Será que ele é o cara das raras lágrimas?


E aquele garoto da foto amarelada em preto & branco foi quem me ensinou a gastar o tempo com as letras, quem me ensinou a juntar as duas mãozinhas e rezar para o meu "santo anjo", quem me ensinou a replicar, treplicar e "deixar arder" quando nada mais valer. Quem me ensinou a apreciar (e não só curtir), a "achar difícil" certas cenas de filmes, a ficar na paz (até pke o único que tem direito de ficar de "eito" é ele). Quem tentou me ensinar a dar partida no carro. Será que ele é o mestre que cada um deveria ter para a escola da vida?

O cara-durão que se derrete com o sorriso malandro de uma figurinha "que não toma jeito"; que reclama mas acha o máximo o grude do seu chiclete de 4 patas, que é feito de histórias só sabidas em viagens, de emoções que não se expressam em um nível palpável (e que, por isso mesmo, se tornam eternas), de músicas "do tempo do Lopy", de dizeres, prosa e poesia. Será que ele é daqui mesmo?

O Mor aqui de casa. O "madamo" do 507. O Seu Pelé. O meu pai.
Simples assim.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Costura a minha sombra*?

*"Me assusta tão igual que somos, você costura minha sombra."(8)
(só porque, um dia, eu hei de desencalhar e cantar Nando Reis para o meu "Cérebro de Balão")

sábado, 28 de maio de 2011

"Os conceitos não são estanques" - o chefinho diz.

Saudade é a crônica narrativa que deveria estar sendo escrita agora.
Amizade são os pinguinhos de tintas coloridas feitos com o pincel numa tela branca.
Lágrima é o hiato entre a poesia e a matemática.
Leveza é vc se vestir de "café-com-leite" e se divertir mais que todos os outros.
Família é a sua casinha na árvore que sempre te espera, não importando o quão "gente grande" vc se considere.
Intimidade é o seu cantinho vermelho do 'esconde-esconde' da vida.
Abraço é a negação da teoria física sobre a ocupação de dois corpos no mesmo espaço.
Arrepio é a pimentinha que vc morde na hora do beijo.
Paixão é a desculpa esfarrapada de um coração carente.
"Me perdoa?" é o carinho pedindo licença para o orgulho.
"Eu amo vc..." é o "valew, Papai do Céu, por ter me dado essa pessoa".

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Até A. Einstein sabe...

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro."

- Autor desconhecido.








domingo, 10 de abril de 2011

Verbete não encontrado

Me perdoa?. Pardonnez-moi; I'm sorry; Mi perdoni; Verzeihen Sie mir. 1. Ato no qual o carinho e o amor estão enxotando, com a vassoura, o orgulho. 2. Geralmente, precedido de um olhar encabulado e amedrontado, mas que relaxa ao perceber que os braços estão adrenalizados para correr para o abraço. 3. É uma petição que, às vezes, se confunde com uma intimação por simples necessidade de ter o Requerido ao lado do Requerente. 4. Constitui uma das frases mais difíceis de se dizer e, por isso mesmo, ouso dizer que não perderia nem para o "eu te amo" e nem para o "conte sempre comigo", sabe porque? porque todas têm uma carga de responsabilidade que só os seguidores do Amor podem carregar., e olhe que bacana, neste caso, o trocadilho é assim: "enquanto ama, carrega bolhas de sabão". 5. Tem a cor de todos os espectros de arco-íris que se confundem naquela frágil bolha flutuante, pronta para estourar ou... para continuar a encantar a leveza do convite. 6. É um convite para dançar, sem saber os passos ou sem conhecer a música. 7.  É o cheiro que vc espera sentir, ao acordar, no outro dia, quando seu coração estiver naquela situação dita por Saramago: "e o seu coração parecia um imenso tambor" de tanta alegria. 8. Ensinamento dado por Nosso Irmão que, pequenino, se tornou o Salvador. 9. Sinônimo: Você poderia ficar aqui, por gentileza?; Eu + voce = algo bem melhor; Ao invés de nos protegermos da chuva, porque não vamos brincar com ela?. 10. É traduzível em vários idiomas, talvez, em todos, mas, em português, tal expressão, se reveste do vocábulo da "saudade", por não ter tradução idêntica e nem alcançar todo o significado que, para nós, tem essa palavrinha muito mais que mágica.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Meu ponto Gê.

"E a gente no quarto,
sente o gosto bom
que o oposto tem." (8)




Coisa mais ridícula é esse negócio de "fazer tipo". Sabe assim: "Ah... fulano não faz meu tipo"?. Expressãozinha típica de quem, no mínimo, tá fazendo um tipo danado de sem-noção.
Falo isso por experiência própria. Sim. O meu tipo sempre foi um morenão (negro, então, é o céu!), alto, mais velho, mais cheinho (é, minha teoria é bastante palpável a respeito: veja bem, é bom abraçar um cara gordinho, vc fica tão mais cheia parece, nada fica "despreenchido"), que goste de ler ou, ao menos, esconda uma inteligência que minha grande perspicácia iria notar e então, pronto! Fez o meu tipo.!
Esse sim era um tipão, digno de minha admiração, paixão, química e sei lá quais são os outros tipos de atração que sugere que qualquer "tipinho" (abaixo dessa categoria, claro está), não chamaria a menor atenção do mundo. Logo, se aparecesse um Brad Pitt (um baita tipo para umas e outras por aí), de certo passaria batido, né, dona Tipona?
Pois bem. Eis quão ridícula é essa classificação. E olhe que eu não vou me aprofundar na categoria mais poética, mais leve, e mais camoniana da questão tipificada. Tô falando de química, de mão-aqui-mão-ali, de all star com salto alto, de sertaneja com rockeiro, de coisa e talz e talz e coisa, e dali coisa, sabe?!
Seguinte! Situação bem atípica na minha vida pacata: 
(i) cara mais don juan que chegou na maior marra, como se ele tivesse pouco tempo para ser meu brinquedinho de diversão e vice-versa e, como se não bastasse, ainda me levaria para o porta-malas, assim, bem no maior estilo de "quanto mais apertado, melhor" e... no ponto da doçura.
(ii) O viciado mais cheiroso de vinho e cigarro e com os olhos azuis mais cheios de má intenções que eu tive o prazer de gargalhar na cara dura e... no ponto da suavidade. 
(iii) O baixinho, branquinho que visita semanalmente os meus sonhos, e sempre com a mesma marra e o mesmo cheiro e... no ponto da saudade (sem juízo, por sinal). 
(iv) O cara mais novo que eu e que parecia que já tinha caminhado bem mais que a "Rainha dos baixinhos" aqui, e... no ponto da sedução. 
(v) O peixinho metido à categoria de "eu deveria levar o prêmio" que riu da minha cara quando quase me afagou, e... no ponto do encanto. 
(vi) O magricelo que tem um abraço, ao mesmo tempo, aconchegante e frágil e... no ponto de "posso ficar mais um pouco pra sempre?".
(vii) E o pior: onde ficou minha grande perspicácia em notar algum vestígio de inteligência nesse tipinho aí?
Pois é. Não ficou.
E lá alguém pensa, reflete ou é uma típica intelectual quando o assunto é: o melhor beijo conjugado com um abraço de porcelana que me preencheu?
Tipo: o cara é o oposto do meu tipo. É o tipinho que eu virei a cara quando o vi. É o tipão que nem em outra vida se tornaria. É tipo... quimicamente instruído para me levar para qualquer lugar.. até... um porta-malas cheio de pernilongo. É, desculpe o trocadilho, o meu ponto Gê!


Quer saber? E lá, por acaso, as melhores coisas da vida têm juízo, têm tipologia, têm cores, têm altura, têm livros , têm peso, têm lugares ideais para rolar, têm cronômetro, têm previsibilidade?
Não, né?! E tomara que assim o seja para todo o sempre.

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E bem... "posso mandar um beijo"?
Então queria mandar um beijo
para o Fumadinho,
o carinha mais tipinho que me aconteceu.
E sim, Gê.,
eu perguntei de vc quando fui embora.


domingo, 6 de março de 2011

Sabe assim... Inveja? ;D

": Se eu ficar feia? : Eu fico míope.
: Se eu ficar triste?: Eu viro um palhaço.
: Se eu ficar gorda? : Eu quebro o espelho.
: Se eu ficar velha?: Eu fico velho junto.
: Se eu ficar rouca? : Eu fico surdo.
: Se eu ficar chata?: Eu te faço cócegas."

sexta-feira, 4 de março de 2011

Apertadinho, mas cabe.



Lembranças cabem em Músicas. Músicas cabem Histórias. Histórias cabem em contos de fadas. Contos de fadas cabem na infância. Infância cabe em qualquer idade. Idade cabe na certidão de nascimento. Nascimento cabe na manjedoura. Manjedoura cabe na História da Salvação. Salvação cabe na cruz.




Família cabe numa amarelada foto. Foto cabe na surpresa. Surpresa cabe no beijo. Beijo cabe na chuva. Chuva cabe no verão. Verão cabe na sensualiade. Sensualidade cabe em segredos a dois. Segredos vermelhos cabem na Intimidade. Intimidade cabe no buraco da fechadura.




Decote cabe no sutiã. Sutiã cabe numa caixinha de presente. Presente cabe num Oi!. Oi cabe na paquera. Paquera cabe numa piscadela. Piscadela cabe na camaradagem. Camaradagem cabe na política. Política cabe numa cueca.  Cueca cabe numa samba-canção. Canção cabe num ninar.






Saudade cabe num sotaque. Sotaque cabe no Encanto. Encanto cabe em um cheiro. Cheiro cabe num fechar dos olhos para se recordar. Recordar cabe numa oração. Oração cabe na gramática. Gramática cabe na escola. Escola cabe na vida. Vida cabe em lembranças que cabem em músicas, que cabem em Histórias, que cabem em conto de fadas, que...

Poesia em prosa -

"Só na sinfonia de Beethoven o destino chama e torna a chamar, na vida não é assim, há ocasiões em que tivemos a impressão de que alguém estava lá fora à espera, e quando fomos ver não era ninguém, e há outras em que chegámos apenas um segundo tarde de mais, e tanto fazia, a diferença é que, neste caso, ainda podemos ficar a perguntar-nos, Quem terá sido, e levar o resto da vida a sonhar com isso."

José Saramago.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um barquinho de papel

Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei de exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo recruzado. (...) A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber porque, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.”
Guimarães Rosa.

Foi num barquinho de papel que a gente criou nosso próprio universo. Dois capitães descompromissados, isentos de qualquer obrigação um com o outro e imunes de toda e qualquer teoria criada para explicar essa navegação.
No comecinho da viagem, tudo foi tão normal para, mais tarde, se tornar aquilo que alguns denominam o "baú do tesouro". Os dois, cada um com o seu remo, a seu ritmo e ao balanço da leveza e delicadeza de nosso mundinho irresponsável, ia seguindo vida  adentro. A gente aportou, no meio da noite, em um ponto de busão e esperamos acontecer algo (alguma coisa de extraordinária, mas, nem desconfiávamos que o "super" já estava rolando): a gente conversava, ria de forma formidável para desagradar os vizinhos, falava de besteiras, de segredinhos bestas e infantis e contava algumas historinhas de pescadô.
Dois tripulantes num mesmo barquinho frágil. E a isenção foi ficando de lado, a imunidade deu lugar ao carinho ou solidão e aqueles, antes capitães de suas próprias vidas, se tornaram parceiros de alguma coisa muito boa, mas que não se tem nome.
Nas andanças pelo mar que, não raramente (digo: frequentemente) eram feitas "de pé dois", eles caminhavam e trilhavam para algum farol que nenhum dos dois sabia, ao certo, onde ficava, mas só de saberem-se em busca da mesma luzinha brilhante, na mesma sintonia e com as descompassadas batidas de ironias, de mal-dizeres, de desavenças, já era suficiente. Importante no sentido de que voltariam sempre para ver se o barquinho estava lá e se o outro tbm se encontraria lá. Fantástico na medida em que o adjetivo era mais-que-perfeito para qualificar alguns crimes cometidos pelos dois piratas. Irresistível como a torta de sonho de valsa que foi compartilhada no meio-fio que, simbolica e denotativamente, já separava o barquinho em dois.
Dois Pedros Álavres Cabral: cada um em sua rota, em busca do seu tesouro, do seu saramago ou de sua clarice, do seu brasil para ser descoberto. O farol que, dantes navegam à procura, ficou em algum lugar e ainda não foi encontrado. E nunca o será. Talvez, seja essa latência que torne o livro muito mais interessante. Ou não.

Era uma vez...
"um barquinho de papel".

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O negócio é listar...

i -Não gosto de telefone, gente burra e filmes musicais.
ii - Alimento um carinho imenso por alguém que não sabe quase nada de mim, fico horas da minha vida pensando se eu já conheci o amor da minha vida e não dei moral ou se ele ainda está por vir, adoro pessoas que sabem ouvir com os olhos e coração.
iii - Sou louca para fazer uma tatoo, mas ainda sou mto grudada na barra da saia da minha mãe (e pasme! eu curto mto isso).
iv -Quando eu chegar ao céu, gostaria de ouvir: "tem gente te esperando", mas, no fundo, eu super pensariaa: "Olha só... eu por aqui... Waal!". Tenho minhas desconfianças acerca da Sorte, do Acaso e de gente que não olha nos olhos.
v - Tenho tesão pela voz do comandante de avião, ao dizer: "tripulantes, preparem-se para a decolagem!", sim, qualquer conexão com esse início fica sensacional.
vi - Sou teimosa, bicuda e chata de dar nojo.
vii - Ficaria horas mexendo o copo de leite com capuccino, só para me deliciar com o barulhinho das batidas da colher na porcelana da caneca.
viii - Sempre fui a melhor aluna do tempo do colégio, não passei na faculdade de Direito em uma universidade pública, fiz curso de Letras e agora tô radiante.
ix - Sou mto gata com os meus rastafari e já xinguei mto mentalmente quem sugeriu para eu alisar as madeixas.
x - No estado do Pantanal, sou nascida e criada, tenho um pezinho em Salvadô, mas em Buenos Aires, meu coração ficô.
xi - Detestaria ter uma irmã gêmea, ganhar o troféu de Pessoa mais Legal do Mundo (pois é, o príncipe Harry ganhou) e saber que algum cabra macho andou falando por aí que "me catou" (catar a gnt cata outras coisas... não pessoas).
xii - Morro de medo de espíritos que ficam atrás da porta, do palco, da cortina e da foto, de cair numa cova e de não ser perdoada.
xiii - O meu melhor beijo foi com um quase-primo e, para eu me recordar, é só misturar cigarro e bebidaa (ôooo.. saudades sem juízo).
xiv - Uso a torto e a direito a expressão 'vai te catar" com as pessoas que eu mais amo.
xv - Já fiz burradas de trocar pessoas certas pelas erradas, de colar na cara dura e quase ficar de DP, de tirar o coração de alguém do lugar e não fazer o mínimo esforço para colocar de volta, e de não mentir a respeito do que eu sentia.
xvi - Sou (MESMO) capaz de voltar para buscar meu gordinho, de pagar um mico com um amigo só pela diversão, de ir atrás de uma causa já perdida por simples capricho, de mentir espetacularmente, de maldizer aos berros e de declarar meu amor mais alto ainda.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

... O encanto do "cão das lágrimas".

"O cão das lágrimas apareceu na varanda,
desassossegado,
mas agora não havia choros para enxugar,
o desespero era todo dentro,
os olhos estavam secos" J. Saramago



Nunca mais seu olhar,
Nunca mais brincadeiras,
Nunca mais feliz,
Nunca mais amar.

Nunca mais cocô no chão,
Nunca mais patas imundas,
Nunca mais um amigão.

Nunca mais seu carinho
e eu no seu carrinho.
Nunca mais meu rabinho
alegre no seu colinho.

Na minha vida canina,
pra sempre você ficará
Pra sempre, eu ficarei
cuidando do lugarzinho onde vc está.


(Imagem do cão Caramelo (também chamado de Leão). Exemplo de Lealdade, em meio à tragédia do Rio de Janeiro. Eu chorei. Disponível em http://colunas.globorural.globo.com/planetabicho/2011/01/17/cao-permanece-ao-lado-da-sepultura-da-dona-apos-tragedia-em-teresopolis-rj/. )

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inicio com dois pontos...

: é o atraso do táxi, a ligação para um número errado, o lugar ocupado na poltrona ao lado da sua no avião, o sorriso que percorre um caminho não direcionado, o bilhete dentro do livro emprestado de uma biblioteca pública, a carona de guarda-chuva oferecida por um bom samaritano, a fila de espera de bilheteria daquele filme que vc rala um monte, o vício por leite com toddy que te leva ao lugar mais improvável às 11 e meia da noite, o curso de latim que vc resolve fazer nas férias por pura falta de ter o que fazer, a mudança de atalhos, de retina e de gentilezas.

 São os jogos da casualidade, os casos embanhados pelos acasos que fazem vc encontrar uma esperança; o amor que, afinal, saiu da sala de espera; o efeto de um amigo que não tem nada a ver contigo, ou a amiga que é uma irmã "trocada na maternidade"? É a lei das probabilidades regendo todo o seu destino, ou talvez, a sua sina em se esbarrar ou sentar ao lado de alguém que te indicará uma nova direção, um novo riacho a ser explorado ou, quem sabe, te ensinará o caminho, tendo ao seu lado, aquele alguém que, não por acaso, estava figurando nas possibilidades trazidas pela sorte ? São os porventuras que te mostram a música que foi feita pra vc, o click que te fez sacar toda a teoria mais complexa que fizeram o favor de inventar, que te une à uma pessoa por um trecho, uma conexão aérea, uma vida?

E se tais encontros, entregues à boa vontade da sorte, não tivessem acontecido? E se o táxi tivesse chegado na hora marcada? e se a poltrona do avião tivesse ficado vazia? e se o bilhete no livro fosse encontrado por outra pessoa? e se o curso de uma língua morta passasse sem ser notado? e se a gnt seguisse sempre a mesma trilha, a mesma cartilha do abecedário?
E se... o acaso não existisse? Por acaso, ele existe mesmo?
Pô! é mta filosofia de Zeca Pagodinho "deixar a vida te levar" ou acreditar num "fantasminha camarada", como o tal do Acaso. Aí, agora me veio uma ideia: acaso, a Sorte não seria a companheira do Acaso?

Então, é assim? Eu vou seguindo o meu manual de instrução, sou e faço tudo politicamente correto, digo "saúde" para qm acabou de espirrar, faço exame de rotina a cada 6 meses, bebo dois litros de água por dia, não faço mal a ninguém, vou à igreja aos fins de semana, leio o que me indicam que é bom, e daí... quem sabe um dia, por uma bendita casualidade (ou por consequência do meu bom comportamento durante o ano), a sorte chega em mim, na maior postura de gênio da lâmpada, e diz: Olhe, olhe, cá estou eu, beije os meus pés, pke hoje é seu dia de sorte!? E se a reverendíssima Sorte estiver ocupada em atender pedidos de alguns sortudos por aí?, eu deixarei de encontrar a pessoa que me auxiliará a tecer toda a trama do meu novelo? Óh, um gigantesco azar, hein!

Aham....senta lá, Senhora Sorte!

Ah não. Eu suponho que se deixar à deriva é ser totalmente cético. Tomar essa postura passiva, frente à vida, é duvidar do Arquiteto Maior do Universo.

Se exatamente aquela pessoa ocupou o assento 12B do avião, e o seu era o 12C, aproveite para brincar com ela de descobrir desenho nas nuvens; daí, se algo mágico rolar é porque tem um "porquê". E o nosso "acaso" foi apenas um pano de fundo para juntar duas pessoas que tinham tudo para não se encontrarem, mas que, por força divina, se encontraram.
E descobrir a missão de cada um em sua vida é fascinante!

domingo, 2 de janeiro de 2011

A/C de D...

"Sim, eu fiquei com pena dele. Pena propriamente não, preciso de uma palavra mais adequada. Fiquei numa postura meio filosófica, meio melancólica. Não é bem melancólica, é a de um sorriso chapliniano, talvez. Tem uma palavra inglesa que está zanzando aqui, em torno da minha cabeça como uma mariposa em torno de uma lâmpada. Detesto usar palavras estrangeiras porque as portuguesas me faltam, me sinto uma débil mental, isso só se perdoa em alemão, que tem palavras para designar coisas que só alemão sente. Bem, não tenho inseticida aqui, wistful. Fiquei assim meio wistful, olhando pra ele, como se eu estivesse à distância, destacada da cena.", apenas esperando o meu próximo movimento espontâneo que o fizesse ficar maluquinho por mim, talvez, uma palavrinha dita de um jeito mais gracioso, talvez o rebolado ou o movimento mais audacioso das minhas trancinhas, talvez o meu fingimento em não saber pegar no taco ou não entender uma jogada, talvez o arrepio que me deixava sem graça ao sentir a mão dele sobre a minha cintura, talvez um sorriso que fingia não entender o que ele estava querendo me sugerir, talvez um talvez.
A verdade é que o meu gordinho tremia na base comigo. E, eu confesso: ele era inteligentíssimo e esse "click" da libido me tirava do meu wistful e fazia com que eu entrasse em cena, bem de pertinho.
Toda essa minha cena me deixou uma saudade que não tem explicação. Uma saudade maluca, maluca assim como a "bonequinha de luxo" que interpretou um filminho com um "Shrek".
A rosa que viveu um conto de fadas com toque boêmio, recheado de vícios, de coca-cola e cigarro, de cerveja e pizza, de sinuca e reggaeton, e de lembranças do Raça Negra, da  "Florentina, Florentina" e dos Mamonas Assassinas. A rosa que teve colo, aulas particulares e até um casaco recusado, que beijou e abraçou, na maior postura wistful. A rosa que não brigou com o cravo. A rosa que brincou com o amor, com uma noite encantada e com a mentira. A rosa que "pôs-se a chorar" ao perder o cravo e... perder pro cravo.

"Escolha feita, inconsciente
De coração não mais roubado
Homem feliz, mulher carente
A linda rosa perdeu pro cravo." (8)