domingo, 4 de setembro de 2011

Cada coisa que a gente ouve...


                                                                           "É que o mundo todo vivo tem a força de um Inferno".
                                                                                                                   Clarice Lispector.


 
                                                      Eu ouvi falar que milhões de judeus morreram por conta de um cara bigodudo, que tinha gostos nojentos e não retratava uma "raça pura", mas que colocou grandes caras na linha de risco e do risco. Eu ouvi falar que as Cruzadas foram santas e as santas, muitas vezes, não foram santas por toda a vida. Eu ouvi histórias de pezinhos que se arrastam na madrugada, e isso se chama alma penada que ainda tem alguma pendência por aqui. Eu ouvi dizer de um exílio (que não é a solidão que cada um carrega dentro de si), mas que foi inspiração para a música. Eu ouvi o telefone tocar, e do outro lado da linha alguém brincar com o meu jeito de dizer "Aaaalôouu". Eu ouvi o hino nacional, eu não entendi nada de nada, mas cantava com a mão direita grudada no coração. Eu ouvi a fala do meu coração e fiquei com medo danado da outra pessoa ouvir também e por isso eu gargalhei, para abafar o primeiro ruído (estrondoso... "claro está"). Eu ouvi a minha voz no gravador e prometi que nunca mais repetiria a dose. Eu ouvi o "eu te amo" do meu cachorro pra minha mãe, no seu auauau-de-cada-dia (?!). Eu ouvi que eu sou feia e que as mulheres mais bonitas não tiveram êxito em seus relacionamentos (e eu ainda sou avulsa). Eu ouvi a triste história do gênio que inventou a fórmula da Coca-cola e fiquei esperta para patentear qualquer projeto meu que nem mesma eu boto fé. Eu ouvi uma declaração de amor perfeita (e pasme!) que não era pra mim, mas que seria a declaração que eu faria para o enunciador.









Em nota: texto encontrado agorinha, num bolinho de papel amassado dentro de uma bolsa aposentada. (Por que tem gente que tem a péssima mania de se desligar de aulas e viajar nas palavras?). Acho mto feio isso!