quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

... O encanto do "cão das lágrimas".

"O cão das lágrimas apareceu na varanda,
desassossegado,
mas agora não havia choros para enxugar,
o desespero era todo dentro,
os olhos estavam secos" J. Saramago



Nunca mais seu olhar,
Nunca mais brincadeiras,
Nunca mais feliz,
Nunca mais amar.

Nunca mais cocô no chão,
Nunca mais patas imundas,
Nunca mais um amigão.

Nunca mais seu carinho
e eu no seu carrinho.
Nunca mais meu rabinho
alegre no seu colinho.

Na minha vida canina,
pra sempre você ficará
Pra sempre, eu ficarei
cuidando do lugarzinho onde vc está.


(Imagem do cão Caramelo (também chamado de Leão). Exemplo de Lealdade, em meio à tragédia do Rio de Janeiro. Eu chorei. Disponível em http://colunas.globorural.globo.com/planetabicho/2011/01/17/cao-permanece-ao-lado-da-sepultura-da-dona-apos-tragedia-em-teresopolis-rj/. )

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inicio com dois pontos...

: é o atraso do táxi, a ligação para um número errado, o lugar ocupado na poltrona ao lado da sua no avião, o sorriso que percorre um caminho não direcionado, o bilhete dentro do livro emprestado de uma biblioteca pública, a carona de guarda-chuva oferecida por um bom samaritano, a fila de espera de bilheteria daquele filme que vc rala um monte, o vício por leite com toddy que te leva ao lugar mais improvável às 11 e meia da noite, o curso de latim que vc resolve fazer nas férias por pura falta de ter o que fazer, a mudança de atalhos, de retina e de gentilezas.

 São os jogos da casualidade, os casos embanhados pelos acasos que fazem vc encontrar uma esperança; o amor que, afinal, saiu da sala de espera; o efeto de um amigo que não tem nada a ver contigo, ou a amiga que é uma irmã "trocada na maternidade"? É a lei das probabilidades regendo todo o seu destino, ou talvez, a sua sina em se esbarrar ou sentar ao lado de alguém que te indicará uma nova direção, um novo riacho a ser explorado ou, quem sabe, te ensinará o caminho, tendo ao seu lado, aquele alguém que, não por acaso, estava figurando nas possibilidades trazidas pela sorte ? São os porventuras que te mostram a música que foi feita pra vc, o click que te fez sacar toda a teoria mais complexa que fizeram o favor de inventar, que te une à uma pessoa por um trecho, uma conexão aérea, uma vida?

E se tais encontros, entregues à boa vontade da sorte, não tivessem acontecido? E se o táxi tivesse chegado na hora marcada? e se a poltrona do avião tivesse ficado vazia? e se o bilhete no livro fosse encontrado por outra pessoa? e se o curso de uma língua morta passasse sem ser notado? e se a gnt seguisse sempre a mesma trilha, a mesma cartilha do abecedário?
E se... o acaso não existisse? Por acaso, ele existe mesmo?
Pô! é mta filosofia de Zeca Pagodinho "deixar a vida te levar" ou acreditar num "fantasminha camarada", como o tal do Acaso. Aí, agora me veio uma ideia: acaso, a Sorte não seria a companheira do Acaso?

Então, é assim? Eu vou seguindo o meu manual de instrução, sou e faço tudo politicamente correto, digo "saúde" para qm acabou de espirrar, faço exame de rotina a cada 6 meses, bebo dois litros de água por dia, não faço mal a ninguém, vou à igreja aos fins de semana, leio o que me indicam que é bom, e daí... quem sabe um dia, por uma bendita casualidade (ou por consequência do meu bom comportamento durante o ano), a sorte chega em mim, na maior postura de gênio da lâmpada, e diz: Olhe, olhe, cá estou eu, beije os meus pés, pke hoje é seu dia de sorte!? E se a reverendíssima Sorte estiver ocupada em atender pedidos de alguns sortudos por aí?, eu deixarei de encontrar a pessoa que me auxiliará a tecer toda a trama do meu novelo? Óh, um gigantesco azar, hein!

Aham....senta lá, Senhora Sorte!

Ah não. Eu suponho que se deixar à deriva é ser totalmente cético. Tomar essa postura passiva, frente à vida, é duvidar do Arquiteto Maior do Universo.

Se exatamente aquela pessoa ocupou o assento 12B do avião, e o seu era o 12C, aproveite para brincar com ela de descobrir desenho nas nuvens; daí, se algo mágico rolar é porque tem um "porquê". E o nosso "acaso" foi apenas um pano de fundo para juntar duas pessoas que tinham tudo para não se encontrarem, mas que, por força divina, se encontraram.
E descobrir a missão de cada um em sua vida é fascinante!

domingo, 2 de janeiro de 2011

A/C de D...

"Sim, eu fiquei com pena dele. Pena propriamente não, preciso de uma palavra mais adequada. Fiquei numa postura meio filosófica, meio melancólica. Não é bem melancólica, é a de um sorriso chapliniano, talvez. Tem uma palavra inglesa que está zanzando aqui, em torno da minha cabeça como uma mariposa em torno de uma lâmpada. Detesto usar palavras estrangeiras porque as portuguesas me faltam, me sinto uma débil mental, isso só se perdoa em alemão, que tem palavras para designar coisas que só alemão sente. Bem, não tenho inseticida aqui, wistful. Fiquei assim meio wistful, olhando pra ele, como se eu estivesse à distância, destacada da cena.", apenas esperando o meu próximo movimento espontâneo que o fizesse ficar maluquinho por mim, talvez, uma palavrinha dita de um jeito mais gracioso, talvez o rebolado ou o movimento mais audacioso das minhas trancinhas, talvez o meu fingimento em não saber pegar no taco ou não entender uma jogada, talvez o arrepio que me deixava sem graça ao sentir a mão dele sobre a minha cintura, talvez um sorriso que fingia não entender o que ele estava querendo me sugerir, talvez um talvez.
A verdade é que o meu gordinho tremia na base comigo. E, eu confesso: ele era inteligentíssimo e esse "click" da libido me tirava do meu wistful e fazia com que eu entrasse em cena, bem de pertinho.
Toda essa minha cena me deixou uma saudade que não tem explicação. Uma saudade maluca, maluca assim como a "bonequinha de luxo" que interpretou um filminho com um "Shrek".
A rosa que viveu um conto de fadas com toque boêmio, recheado de vícios, de coca-cola e cigarro, de cerveja e pizza, de sinuca e reggaeton, e de lembranças do Raça Negra, da  "Florentina, Florentina" e dos Mamonas Assassinas. A rosa que teve colo, aulas particulares e até um casaco recusado, que beijou e abraçou, na maior postura wistful. A rosa que não brigou com o cravo. A rosa que brincou com o amor, com uma noite encantada e com a mentira. A rosa que "pôs-se a chorar" ao perder o cravo e... perder pro cravo.

"Escolha feita, inconsciente
De coração não mais roubado
Homem feliz, mulher carente
A linda rosa perdeu pro cravo." (8)