sábado, 14 de agosto de 2010

O tão-só meu encontro.

"Quem é Deus?" - essa era a pergunta que latejava durante anos em minha razão (eis, talvez, o meu equívoco). E, era nela que eu me intrigava enqto lia mais um Saramago.
Eu absorta nas palavras, na admiração pela mente fantástica e fora do lugar-comum do ateu declarado que ele se dizia ser. E mais angustiante era eu me intitular como "a católica e crente em Deus" e não saber responder a pergunta-princípio de toda a minha existência, e ele, o autor mais genial e mais "revoltado" com toda essa História da Salvação ter escrito tantas coisas que me deixavam espantada (sabe aquele espanto de qdo vc coloca sua mão em uma caixa, onde não se pode ver o que tem dentro, mas tem um barulho vindo de lá? e, ao toque da surpresa, ao sentir aquela coisa que não se pode ver -apesar de vc saber que existe-, seu coração acelera numa mistura de êxtase, alívio - por não ser tão terrível ou mortal o toque - e de medo - por não saber o que se pode acontecer dali pra frente?).
Eu, sentada no banco à espera do meu busão, lia. Ele, em pé, à minha frente, com uma bolsa, me notava. Ele e eu no encontro da mesma cor de pele. Ele me observava. Eu me sentia dentro da caixa, sem coragem para encará-lo. Eu lia. Ele retira algo de dentro da bolsa. Eu lia. Ele, de sopetão, joga um livro em cima da minha leitura. Eu acordei. Eu vi as figurinhas (que não eram nada desconhecidas), eu li uns versos.
Eu me encantei.
O livro que "caiu dos céus" no meu colo por uns 3 minutinhos me fez esquecer de verdade o meu Saramago; O livro pobre, cheio de orelhas, e com algumas partes caindo, que quase sujou o meu saramago que, tão inesperadamente, havia ficado por baixo; O livro jogado por alguém que foi considerado um mendigo e mal educado (por ter "atrapalhado" minha concentrada e intelecutal leitura) era...
.... uma Bíblia ilustrada.
Não houve troca de uma palavra, mínima que fosse. Não houve nada além que um maluco que assim, como sumiu do nada, mais do nada apareceu e uma garota que não sabia de onde veio e nem tinha a bússola ou qualquer GPS indicando-lhe para onde ir. Não houve mais ninguém com eles (apesar do Transbordo estar transbordando de universitários).
Houve, então, a devolução do Livro, o sorriso em vida dupla e iluminado por algo inexplicável, o aperto de mãos (a mão macia e pequena se encontra com a mão calejada que a esperava no ar, à altura do seu coração)... tudo isso, sustentado no espaço de um olhar.
Ele vai embora, e deixa pra trás sorrisinhos e comentários furtivos do tipo "o cara é maluco!"
Ela vira a página, nem O procura novamente e se deleita às letras de Saramago.
Ele? Acredito ser Deus.
Ela? eu ainda não sei quem é.

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